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09/05/2018 / Campo de 11

A derrota do merecimento para a injustiça

Guerrero e a derrota do merecimento para a injustiça

Durante nossa vida, o conceito de justiça caminha lado a lado com a definição de merecimento.  Se você faz por merecer um resultado, naturalmente há de ser justo. Se não há motivos para que você o mereça, por que tê-lo? A injustiça nada mais é o esvaziamento de poder do verbo merecer. É quando há a busca, a ação, a luta por um objetivo, por um ideal, por uma razão, mas mesmo diante de toda essa conjuntura, o fim não traz o resultado. A definição. Em alguns casos, a solução.

Paolo Guerrero foi um menino peruano que driblou a fome e os caminhos errados da vida com uma bola de meia nos pés. Cresceu da pobreza e encontrou a beleza dos seus sonhos mais lindos no campo de futebol, sempre com a bola nos pés. Lutou, brigou, mereceu. Chegou até o patamar mais alto do futebol mundial. Se adaptou a novas realidades sem nunca deixar de evoluir, de querer, de lutar, de brigar, de sonhar. De merecer! Por justiça, ele se tornou o atleta mais importante da história de seu país.

Aos 34 anos, já no fim da carreira, Guerrero encontrou seu auge. Colocou sua seleção na Copa do Mundo depois de 36 anos. Enfrentou barreiras antes insuperáveis. Com talento, determinação e muita – mas muita – justiça. Com a ajuda de seus companheiros, fez um país inteiro chorar de alegria depois de quase quatro décadas. Alavancou o comércio local, reforçou seu status de quase-deus nas ruas de Lima e, quando estava perto de curtir o momento que tanto mereceu…Eis que surge a injustiça.

A injustiça é foda: ela devasta o ser humano de forma arrebatadora. Ela corta suas pernas, seus braços, esmaga sua cabeça. Não deixa que a beleza de seus sonhos seja maior que sua crueldade. A injustiça destrói momentos, amores, carreiras. A injustiça destrói vidas.

Não sei se Paolo Guerrero acaba hoje. Tomara que não. Em um mundo cada vez mais injusto e preguiçoso, pessoas merecedoras de felicidade, esse bem tão escasso, deveriam ter um destino mais apropriado. Dizem que não tem recurso, que não tem jeito, que a Copa do Mundo, o Flamengo e talvez até a carreira de Paolo tenham acabado. É provável que sim.

Se houvesse justiça no futebol, o merecimento falaria mais alto. Uma pena não haver. Quem te conhece, Paolo, sabe da sua força e do seu comprometimento com aquilo que acredita ser correto e justo. Sua fé, seu trabalho e seu caráter sobreviverão a esse inferno. Disso você pode ter certeza. Não há tribunal que lhe tire isso. Força, Guerrero! Seu nome traduz tudo que você precisa ser hoje, amanhã e pro resto da sua vida. Lhe cortaram as pernas, mas sua alma vai sempre dar a volta por cima.

12/03/2018 / Campo de 11

Família, futebol e Seleção: o amor e as lições comuns à Copa do Mundo

 

Ninguém gosta de futebol por acaso. Claro que se trata de um esporte extremamente apaixonante com todos os aspectos imprevisíveis que nos emocionam de uma forma incrível. Mas não há amor sem influência, neste caso. Todos começamos a assistir futebol por alguém – ou por alguma coisa. Comigo, não foi diferente. Eu cresci ouvindo os relatos emocionantes do meu avô sobre a tragédia do Maracanazzo, em 1950, e a dor do meu pai na sua descrição da eliminação de 82 para a Itália. Cresci, sobretudo, vendo Copa do mundo em família e torcendo para os jogadores do time amarelinho, como minha vó mandava. Eu demorei para entender como um jogo poderia ter impactado de forma tão traumatizante na vida deles. Aquilo me intrigava e, ao mesmo tempo, me apaixonava.

Eu fui entender em 2002. Já completamente tomado pelo prazer que o futebol proporciona, assisti todos os jogos da Copa da Coréia e do Japão. Quem não gosta ou não entende nada de futebol, nunca vai compreender o quão sensacional é ganhar uma Copa do Mundo. Quem não ama futebol por causa de alguém, nunca vai entender como é emocionante comemorar abraçando alguém que você tanto ama. Como é bom vencer algo ao lado de quem só quer te ver vencer na vida.

Em 2002, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e Cia me fizeram acreditar que o futebol constrói e destrói traumas. Mais do que isso: o futebol nos faz ter momentos únicos de celebração de amor com as pessoas que mais amamos na vida. Naquele domingo de manhã em Teresópolis, eu ainda não tinha essa noção exata e detalhada de como é legal gostar de futebol por causa de alguém. Mas vencer aquela Copa do Mundo e chorar abraçado com meu pai e meu avô foi a melhor experiência da minha vida.

Naquele dia, eu entendi que os traumas não existem para sempre. Depois daquele domingo, meu avô nunca mais chorou me contando da Copa de 50. Nem quando a gente entrou no Museu do Futebol e ele ouviu pela primeira vez em mais de 60 anos a narração do gol mais triste da vida dele. Já bastante afetado pela doença mais maldita da humanidade, ele me disse, como quem quisesse me tranquilizar de um sofrimento que não era meu: “Têm coisas ruins que acontecem para que outras melhores ainda possam nos surpreender”.

Ele só queria dizer que o Maracanazzo tinha sido foda pra ele. Um dos dias mais tristes e traumáticos da vida dele. Como os gols do Paolo Rossi em 82 foram pro meu pai. A conquista do Tetra, em 94, não apagou isso. Eles ainda remoíam a morte do Senna, outra tragédia traumática para ambos. Mas os gols do Ronaldo em 2002 e a promessa de um neto e filho apaixonado por futebol tinha essa força. O choro e o abraço da família com os três chorando era mais forte que qualquer dor. Esse dia poderia existir para sempre.

Mas o tempo passa, as coisas mudam, o câncer cria novos traumas e o futebol nos entristece ainda mais. Vimos juntos as eliminações de 2006 e 2010. Em 2014, meu avô já não estava mais entre nós, mas antes de morrer dizia que a Copa no Brasil só serviria pro Lula roubar, e que a Seleção não chegaria à final. Ele sempre entendeu muito de futebol e de vida. No fim, o gol de honra no 7 a 1  para a Alemanha foi marcado pelo jogador que ele mais gostava daquele time: o Oscar. E eu sofri demais naquela derrota. Sonhava com um título em casa, para sentir o gosto de gritar de novo ‘É Campeão’ no Maraca abraçado com meu pai, como fora em 2013, na Copa das Confederações. E ainda poderia vingar o Maracanazzo do vovô. Só que não deu. O Mineirazzo foi uma tragédia ainda maior e mais traumatizante.

Mais quatro anos se passaram e a Seleção chega diferente pra Copa da Rússia. Favorita, encorpada, motivada. Temos um treinador de respeito que nos ensina a cada dia o que é a Seleção e como devemos respeitá-la. Ele divide responsabilidades, cria termos, redefine perfis de atletas e nos faz acreditar que a CBF pouco importa quando amamos nosso país em campo. Temos, finalmente, um time jovem, talentoso e de personalidade. Jogadores cobiçados, admirados e extremamente vencedores.

Se eu pudesse pedir uma coisa a Deus para que acontecesse na Rússia, eu certamente pediria que meu avô surgisse, revivesse, sei lá. Só queria que ele estivesse comigo por um dia. Não precisava ser na estreia sofrida contra a Suíça, nem no drama das oitavas, das quartas ou no nervosismo das semis. Eu queria ele na final. Onde quer que fosse. Com quem quer que fosse, mas de preferência meu pai.

E é incrível como eu sei exatamente como ele se comportaria. As coisas que ele diria sobre cada situação, sobre cada jogador, sobre cada oponente. Ele passava longe do previsível, mas me contava tudo. Como se quisesse me ensinar sobre tudo com detalhes e cuidados que só um avô consegue ter.

Eu sei que ele criticaria essa marra do Neymar e a pressão excessiva que alguns comentaristas jogam em suas costas. Sei que adoraria ver o Coutinho, cria do Vasco, vestindo a camisa 11 da Seleção e arrebentando. Certamente, provocaria dizendo que não havia nenhuma cria rubro-negra no time. Até poderia ouvir a resposta com o nome do Renato Augusto, mas retrucaria usando algum argumento raso, mas efetivo para aquele momento.

Eu tenho certeza que ele gostaria de ver o Marcelo dando aqueles dribles arriscados e abusando da técnica em lances capitais. Ele gostava de gente corajosa, de personalidade. Por isso, casou com minha vó. Impossível ele ser crítico do Thiago Silva. Adorava o Monstro como zagueiro e, se o visse chorando em 2014, bradaria: “homem também chora””, como sempre fazia nas festas de família e nas viradas de ano, com os olhos cheios de lágrima. Alguma coisa me diz, também, que o Gabriel Jesus seria seu xodó, e que ele criticaria o Firmino: “Nome de advogado…”.

Infelizmente, o máximo que eu conseguirei vai ser sonhar com meu avô na Copa. E que sejam sonhos longos, repetitivos, diários, se possível. Quem sabe eu não possa contar para ele, a cada jogo, como foi cada gol, cada lance de perigo, cada atuação individual, como eu fazia por telefone quando ele estava no hospital em seus últimos dias. Sem forças pra falar ou agradecer, ele vai sorrir. E eu vou entender perfeitamente o que ele quis dizer, como sempre foi.

Afinal, as dores da morte são e sempre serão incuráveis. Os traumas, a gente vence. Os obstáculos, a gente supera. Mas a saudade ninguém apaga. As lembranças nos povoam e nos fazem crer em dias melhores. E, por fim, o futebol, como NINGUÉM, nos lembra que é capaz de nos proporcionar momentos incríveis e inimagináveis. Que a Seleção e o futebol sigam nos fazendo chorar e sorrir por amor. Nossa família sempre foi unida assim: com a cerveja na mão, a tv ligada e o time amarelinho em campo.

Se o Hexa vier, Vô, pode ter certeza que no apito final eu só pensarei em você. Eu e meu pai vamos nos abraçar e chorar como em 2002. E vamos sentir tuas mãos e teu calor junto. Vai ser o novo melhor dia da minha vida. Vamos, Brasil!

 

 

 

19/01/2018 / Campo de 11

Esqueça a chatice e curta Neymar

Chato esse negócio de criar definições para tudo. Momentos, sensações, objetos, pessoas que fogem às palavras  para uma simples definição. Muitas vezes a sensação é de que somente não há uma definição para aquilo. Talvez, aliás, sejam raras as coisas neste mundo que não recebam um rótulo com palavras por meio de suas características. Essas coisas, raras, são especiais. Como Neymar. Ouse achar uma definição para Neymar. Não terás esta alegria, porque ele simplesmente não pode ser definido com palavras.

Muito mais vale assistir Neymar, admirá-lo. Jogando, sorrindo, simpatizando nas entrevistas e aparições públicas. Neymar é uma mistura de povos. Carrega na alma a felicidade típica de um brasileiro nato, mas impressiona e encanta pela facilidade com a qual conquista japoneses, espanhóis, africanos, norte-americanos. Com e sem a bola, dentro e fora de campo. Do futebol moleque ao sorriso alegre do garoto que ganhou a vida fazendo o que mais ama, um universo de emoções. Neymar ri, chora, grita, reclama. Neymar erra. E erra muito. Mas sem deixar de ser craque em todos os sentidos que a palavra merece.

No futebol, Neymar é uma espécie nova. Tem a leveza típica de um meia-extremo jovem brasileiro, mas a inteligência de um veterano europeu para tomar decisões. A personalidade de grandes jogadores e a frieza normal entre os gênios. Sabe a hora de acelerar, a hora de acalmar, a hora de concluir, a hora de esperar. Sabe, acima de tudo, a hora de vencer. E vence como poucos. Adversários, marcações individuais, táticas especiais. Vence a perseguição de quem quer vê-lo cair. Vence a pressão de ser quem ele sempre quis ser. Neymar.

Craque, craque, craque. Muito craque.

E sem precisar ser, Neymar consegue ser um cara carismático, humilde, do bem. Não por seus gols, dribles e todo o festival que consegue fazer em um campo de futebol semanalmente. Mas por possuir uma essência rara nos dias modernos: a busca intensa pela felicidade.  Não que faça de tudo e passe por cima de todos para alcança-la. Mas no sentido de viver por isso. Viver e morrer pela sua e pela felicidade de quem o faz bem. De quem o faz feliz. Por isso, leva os amigos para trabalhar em sua empresa, para morar contigo em Barcelona. Por isso, faz de tudo para ter o filho por perto e aproveitar a vida ao máximo. Evitando excessos, mas também o marasmo que deve ser uma vida sem curtição.

 

 

27/04/2017 / Campo de 11

Manchester City 0 x 0 Manchester United – Duelo de propostas diferentes com modelos bem executados

Já era de se esperar que o duelo entre os dois arquirrivais da cidade de Manchester serviria como um embate tático também das propostas de jogo que cada time carrega. Do lado do time da casa, o modelo de jogo de Guardiola se baseia na busca incessante pela posse da bola, propondo o jogo, trabalhando a movimentação e a compactação dos setores no campo de ataque, sempre com intensidade. Sem a bola, o incansável perde-pressiona, para recuperar a bola o mais cedo possível e o mais perto do gol adversário. Do lado dos visitantes, a proposta de jogo reativo, com compactação entre linhas, a cobertura muito bem trabalhada, superioridade numérica no setor da bola e a transição rápida para tentar explorar a velocidade dos extremos.

E o duelo tático se manteve desde o primeiro minuto de bola rolando até o último no Ettihad Stadium.  Com domínio absoluto da posse de bola, o 4-2-3-1 do City tentava buscar as brechas da ótima marcação e compactação do 4-1-4-1 do United sem a bola, com Rashford e Martial buscando as transições de contra-ataque. Com 70% do jogo no campo de ataque, os donos da casa tiveram mais posse e, obviamente, mais volume de jogo. Ainda assim, dificuldade para criar espaços e infiltrar.

Sem a bola, o City exerceu bem o famoso ‘perde-pressiona’. Com jogadores próximos no setor da bola, o United teve dificuldades para encaixar bons contra-ataques. Suas melhores chances aconteceram em jogadas individuais com dribles e arrancadas de Martial e bolas paradas.

City x United 1

Superioridade na saída da bola, dificuldade de jogar nas entrelinhas:

Propondo o jogo desde o início, o City tinha facilidade para sair a bola com rapidez e segurança. Fernandinho abria como opção recuando à direita de Kompany e empurrando Zabaleta para o campo de ataque, em busca de amplitude lateral. Sterling, por sua vez, passava a jogar no espaço entre Blind e Darmian, na tentativa de receber passes entrelinhas que quebrassem as linhas de marcação de Mourinho. Touré recuava também para facilitar a saída de 4 do City, com superioridade numérica e proximidade entre seus jogadores, levando a bola com facilidade ao campo de ataque.

Muito bem marcado por Carrick – um dos melhores em campo na primeira etapa-, De Bruyne teve dificuldades para abrir linhas de passe e, sobretudo, jogar entrelinhas.  Ele tentava trazer Carrick para um dos lados do campo e, assim, abrir um canal de interação entre a primeira linha de construção do City e Agüero. Esse canal chegou a funcionar com Kompany rompendo as linhas com passes diretos ao atacante argentino, destaque do time na partida. Ainda assim, sem eficiência para dar continuidade à jogada.

Quando Carrick percebeu essa movimentação de De Bruyne, passou a largá-lo e deixar a marcação por zona acertar o posicionamento. O meia belga, então, passou a migrar para  a ponta-esquerda, empurrando Sané para a área e prendendo ainda mais Valencia e Baily.

de bruyne esquerda

De Bruyne à esquerda, com Sané por ora centralizado, Agüero buscando eventuais espaços entre Darmian e Blind. Com a bola, Touré com três opções de passe. Sterling, por dentro, em mais uma prova da movimentação constante das peças ofensivas.

Compactação ofensiva e Agüero abrindo novos canais de passe:

O City rodava o jogo, construía por dentro, por fora, sempre com proximidade entre as peças ofensivas, mas ainda assim sem grande poder de infiltração e com poucas finalizações. Agüero, por sua vez, passava a sair mais da área, buscar os ‘half-spaces’ entre laterais e zagueiros, abrindo novos canais de passe mais próximo da área.

aguero linha de passe.png

Aguero se afasta de Blind, criando ótima linha de passe para Sterling explorar. O extremo tinha ainda duas outras opções de passe. Ataque do City compacto e intenso, com movimentação e proximidade entre as peças.

United com superioridade no setor da bola:

O time de Mourinho não pressionou a primeira fase de construção do City. Marcando por zona, preferiu exercer a pressão em seu campo de defesa, por meio de zonas de pressão em determinados setores da bola, sempre com superioridade numérica no combate e coberturas eficientes.

Sup United 1

Superioridade numérica no setor da bola e pressão no futuro receptor.

sup United 2

Três jogadores cercam e pressionam o portador da bola, enquanto Rashford espera, logo atrás, uma possível roubada seguida de passe para transição rápida. Blind se prepara atrás para pressionar De Bruyne e Valencia para diminuir os espaços se a bola vier para o seu lado do campo.

Guardiola marca com a bola e evita transições rápidas no contra-ataque:

Característica dos times treinados pelo fabuloso treinador espanhol, o Man.City também consegue preparar uma eventual transição defensiva enquanto ainda tem a bola no campo de ataque. É o famoso “marcar com a bola”.

Com ótima compactação ofensiva, enquanto Fernandinho decide qual a melhor opção de passe, com De Bruyne e Agüero abertos na esquerda e Touré entrelinhas, Kompany preocupa-se com uma eventual perda da posse, ficando pronto para pressionar Rashford em caso de uma tentativa de contra-ataque rápido. Marca dos trabalhos de Guardiola, esse tipo de estratégia inibe diversas transições rápidas. Por isso o United teve tanta dificuldade em contra-atacar.

FT1 CityvsUnited

 

24/04/2017 / Campo de 11

Eibar 0 x 1 Athletic Bilbao – Intensidade e bom primeiro tempo ofuscados por expulsão precoce no segundo

O Eibar é a grande surpresa do Campeonato Espanhol desta temporada. Com orçamento modesto e previsões pouco animadoras por parte da imprensa e dos próprios torcedores, sob o comando do técnico José Luis Mendilibar o time vem surpreendendo a todos e fazendo grande campanha na La Liga Santander 2016-17. Apesar da derrota para o rival local Athletic Bilbao, em casa, por 1 a 0, com gol no último minuto de partida, a equipe mandante apresentou mais uma vez alguns de seus trunfos.

Uma expulsão precoce do volante argentino Gonzalo Escalante, ainda no início da segunda etapa, complicou bastante todo o jogo do time. Ainda assim, fazendo uso de sua intensidade marcante sem a bola, os mandantes conseguiram segurar o Bilbao até o último lance do jogo, quando em um rebote de uma falta cobrada na entrada da área, Raul García marcou o gol da vitória.

Primeiro tempo intenso e de muita força pelo lado direito do Eibar

A intensidade dos primeiros minutos do jogo foi de impressionar. Armado no 4-4-2 clássico, com dois homens de área de boa estatura e força física, o Eibar trabalhava a 1ª fase de construção de forma vertical e direta. Se o Bilbao, no seu 4-2-3-1 habitual, marcava com pressão alta, a melhor alternativa para o time mandante foi fazer uso de bolas longas, principalmente com o zaguerio Galvez. Os alvos eram quase sempre a dupla de ataque e o extremo que joga pela direita Pedro León, que além de bom driblador, vai bem nas disputas aéreas.

longpassgalvez

Na imagem acima, Galvez é pressionado por Aduriz, e logo faz a bola longa buscando León. S.Enrich e Dani Garcia já se aproximam para lutar pela segunda bola.

A luta pela segunda bola era constante e importante. Criar situações de 1 x 1 para os extremos era o principal objetivo, mas também aproveitar sobras na entrada da área para que Kike e Sergio Enrich pudessem finalizar.

Quando a construção não era pressionada pela primeira linha do Bilbao, o time procurava sair em velocidade pelo lado direito, com o ofensivo e potente lateral Capa combinando bem com León. Enquanto o segundo procurava dar amplitude ao time e abrir o corredor central, o primeiro aproveitava a sua explosão para realizar investidas conduzindo a bola em velocidade e esperando o posicionamento dos dois atacantes, fosse para uma tabela de pivô, ou para um lançamento em profundidade.

Capapordentro

Capa se livra de Muniaín e aproveita o espaço no corredor central deixado pela movimentação de León. Lateral-direito com excelente força física e velocidade é boa arma do Eibar na transição rápida pelo chão.

Bilbao força bolas longas e busca Williams em profundidade

Recuperando poucas bolas no campo de ataque apesar da marcação sob pressão, o Bilbao também iniciou o jogo construindo de forma vertical e direta, quase sempre com bolas longas. Buscando na primeira bola o experiente Aduriz, que conta com excelente jogo aéreo, a ideia era ter Williams em velocidade atacando espaços em profundidade na segunda bola. Deu pouco certo. Os centrais do Eibar foram bem nos duelos e sobretudo nas coberturas.

Perde-pressiona e superioridade no lado da bola

A intensidade do Eibar com a bola vista nos primeiros minutos de jogo vertical, sobretudo pelo lado direito, é um trunfo que o time vem apresentando também sem a posse da redonda. Contra o Athletic, mais uma vez, a equipe conseguiu ser intensa mesmo sem estar com a bola.

O famoso “perde-pressiona” ao perder a posse no campo de ataque foi bem feito e trouxe algumas recuperações de bola já no campo de ataque, criando boas situações ofensivas. No campo defensivo, pressão orientada no lado da bola, sem parar de buscar a superioridade numérica nos confrontos laterais.

Muniaín buscando zona central e combinações com companheiros por dentro

A melhor alternativa de jogo do Bilbao na fase ofensiva durante o primeiro tempo foi a movimentação do habilidoso meia Muniaín entrelinhas, buscando a zona central do campo às costas dos volantes do Eibar. Mais próximo de Raúl García e de Aduriz, abria o corredor esquerdo para as subidas de Balenziaga. Na direita, Williams buscava incursões em diagonal às costas  do lateral. Eventualmente, fazia uma longa diagonal para explorar o espaço vazio deixado por Muniaín.

Por dentro, o leve camisa 10 do Bilbao teve facilidade para girar e criar boas jogadas. Acelerou a transição de jogo criando boas rotas de passe por dentro e acabou ficando mais perto do gol, com arrancadas por dentro e dribles rápidos. Faltou ser mais incisivo no último terço do campo, principalmente na hora de definir as jogadas próximo à grande área adversária.

Expulsão muda o rumo do jogo

A expulsão do volante Escalante tirou a proposta de jogo do Eibar, que passou a adotar um jogo mais reativo e de muita organização na fase defensiva. A pressão passou a ser exercida em blocos médio e baixo, com muita compactação entre linhas e perseguições  curtas ao portador da bola, trabalhando bem a cobertura. Enquanto isso, o Bilbao buscaba movimentar e trabalhar a circulação da bola em seu campo de ataque. Para isso, a entrada de Bernat no lugar de Itturaspe serviu bem.

Ainda assim, a equipe visitante tinha dificuldades para explorar os raros espaços entrelinhas e criar boas situações de gol. As poucas infiltrações de San Jose e Williams (em diagonal) eram as raras chances reais de gol. Do outro lado, jogo reativo, novamente com bolas longas orientadas pelos lados, com o time agora no 4-2-3 e os dois centroavantes se revezando no papel improvisado de ponta-esquerda que acompanhava o lateral De Marcos.

No fim da partida, depois de achar uma falta na entrada da área na tentativa de uma infiltração por dentro, o Bilbao conseguiu seu gol. Em rebote da falta, Raul García acertou belo chute e decidiu o jogo.

statslongpass

Estatísticas pós-jogo traduzem a estratégia do Eibar: com a bola, jogo vertical e muitas bolas longas planejadas. Sem ela, pressão para recuperar logo a posse, custe o que custar, inclusive cometendo faltas e recebendo cartões. Intensidade a todo custo.

29/03/2017 / Campo de 11

Brasil 3 x 0 Paraguai – Exigência e soluções no primeiro tempo, brilho no segundo

Como era de se esperar, o Paraguai veio ao Brasil para marcar. Desde os primeiros minutos de jogo, ficou claro que a tarefa principal dos comandados de Arce era essa: marcar e, quem sabe, através de um jogo reativo, assustar. Chegaram a roubar bolas na intermediária e causar certo susto no time de Tite, que tinha dificuldades sobretudo na construção da jogada na primeira metade de jogo. Mas não demorou para o time encaixar, a intensidade voltar, os movimentos naturais e planejados aparecerem e o jogo se decidir.

No segundo tempo, facilidade. Show particular de Neymar com seu repertório interminável de dribles e arrancadas em velocidade. Triangulações envolventes com superioridade numérica e circulação de bola. Zagueiro conduzindo para quebrar linhas, volante acertando todas as coberturas. O Brasil, hoje, é um time pronto  e encantador. Mas ainda assim, passa por alguns momentos de exigências, mesmo contra adversários mais fracos.

Dificuldade na construção e perseguições individuais

O Paraguai iniciou a partida num 4-4-1-1 híbrido que, com a bola, muitas vezes virava um 3-3-3-1. Sem a bola, duas linhas de quatro com preocupação em fechar espaços e limitar o poder de atuação dos meias brasileiros. Na primeira linha de defesa, encaixes individuais dos laterais em Neymar e Coutinho, com longas perseguições quando os extremos brasileiros conduziam por dentro. Com isso, espaço aberto pelas pontas para as subidas dos laterais ou as progressões em diagonal dos volantes, sobretudo Paulinho.

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Repare na imagem acima a movimentação de Coutinho, que conduziu a bola saindo da ponta para o meio, abrindo espaço para a progessão de Paulinho. O lateral-esquerdo paraguaio Alonso o acompanhou. O volante Perez também perseguiu Paulinho. Outro detalhe é o passe vertical de Marquinhos, quebrando linhas, demonstrando a dificuldade na transição inicial ou construção brasileira.

O gol como desafogo e a inteligência de Firmino:

Coutinho se movimentava, mas tinha dificuldades de criar espaços e combinar com Paulinho, Fagner e Firmino. Tentava entrar em diagonal, e não conseguia. Tentou receber a bola por dentro, para girar e acelerar a condução, mas foi desarmado. Entrelinhas, sempre com Alonso no seu encalço. O jeito foi partir para o 1 x 1. Recebeu na ponta, se livrou de Alonso, desacelerou, ganhou novamente no mano a mano e tabelou com Paulinho para marcar o gol do desafogo.

Detalhe para a movimentação de Firmino no gol de Coutinho. O atacante brasileiro, que tem dificuldades para atacar o espaço, puxa a marcação do zagueiro, abrindo o espaço exato para onde Coutinho faz a diagonal e recebe o lindo toque de Paulinho para fazer um golaço.

Show no segundo tempo e Thiago Silva quebrando linhas

O segundo tempo foi de brilho, dribles, arrancadas, golaços, infiltrações, triangulações, intensidade. O Paraguai não resistiu e sucumbiu aos pontos fortes da Seleção de Tite e da magia de Neymar. Paulinho, com posicionamento mais agudo hoje, era muitas vezes o primeiro a subir a pressão na zaga paraguaia, pisou na área adversária em praticamente todos os ataques e foi decisivo com duas assistências. Casemiro, monstro das coberturas e do primeiro passe, com mais uma atuação soberba.

Destaco também a atuação de Thiago Silva. Durante 45 minutos, o camisa 14 foi responsável por manter a capacidade que Marquinhos teve em alguns momentos do primeiro tempo de ser mais agressivo com a bola e ajudar na construção ofensiva quebrando linhas. Marquinhos fez isso com passes verticais. Thiago foi além. Conforme costuma pedir Tite, conduziu a bola em velocidade para ultrapassar e quebrar as linhas de marcação paraguaias. Sempre muito bem coberto por Casemiro, que compunha a primeira linha quando o zagueiro subia.

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Thiago ultrapassando a linha de meio de campo com condução de bola vertical em velocidade, quebrando as linhas de marcação paraguaias e sendo mais agressivo com a bola. Diante de equipes bem fechadas, é ótima alternativa.

 

24/03/2017 / Campo de 11

Uruguaio 1 x 4 Brasil – Poder de reação, modelo de jogo e estratégia

 

Na entrevista coletiva após a goleada desta quinta-feira, em Montevidéu, Tite fez questão de exaltar o desempenho e a consciência coletiva da importância do mesmo para a equipe. Mais do que os gols e o placar elástico, o treinador da Seleção e seus comandados ficaram extasiados por terem conseguido, novamente, ter grande desempenho, desta vez fora de casa e depois de sair perdendo no placar.

A felicidade geral se explica: o bom desempenho é fruto da consolidação do modelo de jogo do time, somado ainda às estratégias específicas adotadas em cada partida e o poder de concentração do time. Mesmo depois de tomar um gol em uma falha individual, o time manteve o padrão, o modelo e a estratégia. Sem se abater, soube se impôr e neutralizar os principais trunfos do rival.

Pressing uruguaio e dificuldade de transição

Os primeiros minutos foram complicados para a Seleção. Apesar de esperar um time vertical e com muita força nas bolas longas, o Uruguai atacou muito pelo chão, com intensidade no início de jogo. Sem a bola, o time subia as linhas e pressionava a saída de bola brasileira. Com os laterais errando passes curtos e a pressão alta do adversário funcionando, o Brasil teve dificuldades na primeira fase de transição.

Até levar o gol, o time brasileiro só tinha conseguido uma transição boa: em arrancada de Neymar. Depois que Cavani abriu o placar, o time se achou. Soube retomar a confiança e ter concentração para impor o seu jogo. Aos poucos, as triangulações e o jogo apoiado foram aparecendo. Em noite inspirada, Neymar usava as conduções e dribles em velocidade da esquerda para o centro, em diagonal, para quebrar linhas e criar novas alternativas de passe. Foi, durante boa parte do primeiro tempo, a principal alternativa de jogo do time.

Perde-pressiona

As marcas da Seleção começaram a aparecer aos poucos. Depois de mostrar que não havia sentido o gol e um poder de reação excpecional, o Brasil se impôs. Com jogo apoiado, as transições aconteciam com circulação de bola e boas triangulações. Sem a bola, o perde-pressiona já funcionava bem. Numa dessas, Sánchez foi pressionado ao recuperar a posse e errou o passe. Caiu logo nos pés de Neymar, que partiu da esquerda para o meio e achou Paulinho livre para acertar um chutaço: 1 a 1.

Posse de bola, imposição e movimentação: controle absoluto

Depois do gol de empate, o Brasil assumiu as rédeas da partida. Seguindo à risca o modelo de jogo, circulava bem a bola no campo de ataque, criando triângulos de opções de passe pelos lados e alternando o ritmo de velocidade das jogadas. Na esquerda, ora Marcelo construía por dentro, deixando Neymar aberto para tentar o enfrentamento no mano a mano, ora aberto, com Neymar flutuando por dentro. Do outro lado, Coutinho flutuava mais e aproveitava os espaços entre as linhas da defesa uruguaia. De ambos os lados, opções de tabela , triangulações, jogo apoiado e alternância de ritmo, marcas do time.

Legenda: Os triângulos em ambos os lados, sempre com um apoio extra, para a necessidade de circular a bola até o outro lado e tentar outra jogada.

Com posse de bola e jogo apoiado, o Brasil construiu mais, e ainda assim, infiltrou pouco. Teve Firmino jogando entrelinhas, buscando às costas dos laterais, combinando bem com os meias. Mas pouca infiltração e até profundidade. No último terço do campo, o Uruguai mantinha seu sistema de marcação com encaixes individuais, sofrendo com os dribles dos extremos brasileiros, que várias vezes ficaram no mano a mano com seus marcadores.

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Os encaixes individuais da marcação uruguaia. Destaque para Coutinho buscando os pequenos espaços entre o lateral e o volante, e Neymar flutuando entrelinhas, com Firmino saindo da área para a ponta-esquerda.

Firmino de pivô, a estrela de Paulinho e a tentativa de mudança de Tabárez

Não demorou para a virada acontecer. Depois de circular a bola da direita para a esquerda, Coutinho fez boa jogada e usou Firmino como pivô. O atacante do Liverpool segurou bem, fez boa finta, girou e finalizou com precisão de esquerda. No rebote, Paulinho, o volante que infiltra e pisa na área adversária que todos clubes queriam ter, virou o jogo.

Como o jogo direto com Rolán por dentro não funcionava, Tabárez mexeu. Abriu o seu segundo atacante pela direita, centralizou Sánchez e tentou transicionar o jogo de forma mais vertical, roubando mais bolas na intermediária defensiva. Não deu muito certo. O Brasil valorizava bem a posse de bola e se movimentava com inteligência.

Bolas longas pros dois lados

Tabárez fez mais duas alterações: Stuani e Abel Hernández em campo. A média de altura do time uruguaio subiu, assim como o número de bolas longas. Quase sempre em diagonal, de uma lateral para a ponta oposta, o time tentava acelerar o jogo e brigar pela segunda bola já mais perto do gol adversário. O Brasil se defendeu bem e, com Fernandinh0 em campo, conseguiu povoar mais o meio de campo e o setor onde caiam a maioria das segundas bolas.

A reação de Tite foi usar a mesma arma. Pedindo uma saída mais rápida desse início de pressão uruguaia e uma ocupação maior do campo de ataque, orientava os defensores a saírem por bola longa para Firmino. Por mais que o atacante da Seleção não seja dos mais altos ou mais fortes, conseguia brigar e atrapalhar os zagueiros uruguaios na disputa. Assim, o time ainda tinha a chance de pegar uma segunda bola no ataque e sair da pressão subindo as linhas com rapidez. Numa dessas ligações diretas, Neymar saiu cara a cara com Martin Silva e fez um golaço de cobertura: 3 a 1.

Jogo decidido, ainda teve espaço para mais um gol do volante Paulinho, aproveitando ótimo cruzamento da direita de Daniel Alves para fechar a goleada e a bela atuação da Seleção.

16/03/2017 / Campo de 11

Análise de jogo: Universidad Católica 1 x 0 Flamengo – Taça Libertadores

Muito além da velha máxima no futebol “quem não faz, leva”, o duelo entre a Universidad Católica e o Flamengo expôs a importância do poder de definição em competição tão acirrada como a Libertadores e a necessidade de ter concentração e planejamento em bolas paradas, que decidem jogos e campeonatos há décadas.

Apesar de ter proposto o jogo durante todo o primeiro tempo e boa parte do segundo, dominando as ações durante a maior parte do jogo com sobriedade e personalidade, o Flamengo vacilou em detalhes que custaram caro. Além de erros individuais nas saídas de bola e problemas com o jogo aéreo adversário, o time perdeu o jogo numa bola parada de falta lateral, que contou com bloqueio digno de basquete para o atacante Santiago Silva cabecear sozinho e decidir o jogo, que esteve nas mãos do time rubro-negro por muito tempo.

A opção por Marcio Araújo

Zé Ricardo montou o time para encarar a Católica de acordo com a necessidade de enfrentar o adversário específico. Para isso, mudou o esquema inicial para o 4-1-4-1, com Marcio Araujo entre as linhas, Arão saindo pela direita, Diego e Rômulo mais centralizados e Éverton à esquerda. Além de facilitar a saída de bola e ganhar poder de roubada de bola no meio, a opção pelo camisa 8 se explicava principalmente quando o time não tinha a bola.

Isso porque a Católica baseia seu jogo na capacidade de armação do volante Kalinski e, sobretudo, na intensidade e movimentação do trio de meias, em especial Diego Buonannotte. O argentino baixinho se desloca com muita rapidez, buscando os flancos e a famosa entrelinha, trocando de posição, abrindo espaços e girando o jogo na última fase de construção. Com Marcio Araujo o perseguindo pelo campo, o Flamengo conseguiu neutralizar boa parte da efetividade do principal jogador do time chileno.

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No frame acima, linha de 4 e Marcio Araujo  no encaixe individual a Buonanotte, que já busca desmarcar-se pela entrelinha. À esquerda, Noir alarga o campo, dando amplitude ao time.

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Acima, mais uma das vezes em que Buonanotte buscou a movimentação para se desmarcar e receber a bola com mais tempo e espaço. Dessa vez, na ponta-direita, e novamente com Marcio Araujo o perseguindo, saindo de sua posição original para fazer a pressão na ponta. Perceba Fuentes se projetando por dentro – acompanhado por Trauco.

Fla com pressão alta, Católica na bola longa

Na tentativa de se impôr e ter o controle do jogo para conseguir imprimir o seu modelo de jogo, o Flamengo variou a marcação em blocos médio e alto. Por vezes pressionou a bola já no último terço de campo, obrigando a Católica a sair com bolas longas. Normalmente, os chilenos fazem isso nos primeiros minutos de jogo, quando são pressionados. A bola sai por um dos laterais e, com uma bola longa em diagonal, ele busca o extremo oposto ou até o centroavante Santiago Silva.

A movimentação dos meias da Católica

Um dos pontos fortes do time chileno, a movimentação de seus meias trouxe problemas ao Flamengo, tanto no primeiro como no segundo tempo. Incansável, Buonanotte buscava brechas de espaço a todo o tempo. Quando percebi dificuldades na transição, recuava para buscar o primeiro passe e acelerar o jogo. Quase sempre com Marcio Araujo a sua cola. O volante rubro-negro conseguiu 3 desarmes.

maxbuo2Repare na imagem acima: como de costume, Kalinski iniciou a transição e direcionou a construção para o lado do campo. Buonanotte saiu do meio para a ponta direita, arrastando com ele Marcio Araujo e abrindo um espaço no meio, às costas de Rômulo, rapidamente preenchido por Noir, que saiu da ponta-esquerda para ajudar na construção por dentro. Fuentes vai receber a bola e ter, pelo menos três opções de passe.

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Na imagem acima, já no segundo tempo, Católica ataca pela ponta-direita. Como de costume, jogada começando com Kalinski, que chega a ser pressionado por Diego, mas acerta o passe para Espinoza, o lateral-direito que subia ao ataque. O extremo abre o corredor para que a jogada prossiga no ponto futuro. No meio, Buonanotte busca às costas de Marcio Araujo, para, em seguida, se movimentar rumo à direita e servir como opção de tabela um-dois.

Fla propôs o jogo, mas definiu pouco

Mesmo com a posse de bola, ocupação do campo ofensivo com boa parte dos jogadores e volume de jogo através de variações nas transições, troca de passes e movimentação intensa, o Flamengo definiu pouco. Chegou a ter oportunidades de finalização, mas sentiu falta de um maior poder de invasão da área adversária e, sobretudo, definição de jogada mais perto do gol.

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Na imagem acima, com os meias saindo da ponta para ajudar na armação por dentro e Diego bem marcado, Marcio Araujo tem dificuldades de iniciar a transição ofensiva. Pará é a opção mais próxima à frente, mas já pode ser pressionado por seu marcador no encaixe invidivual. Entra em cena a leitura de jogo de Rômulo, que recua para servir de opção e tentar mudar o lado da construção. Laterais alargam o campo e tem o corredor para explorar. Ainda assim, Fla teve dificuldades de acelerar o jogo pelo lado e criar chances reais de gol.

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No frame acima, mais um momento de dificuldade do Fla criar um perigo de gol. Católica se fecha na marcação mista com encaixes individuais, negando espaços para os jogadores do Flamengo. Guerrero sai da área para abrir espaços, mas não houve infiltração com efetividade. Arão e Éverton na linha da grande área, dando profundidade à organização ofensiva. Rômulo acaba por voltar ao jogo para os zagueiros e recomeçar a construção. O espaço vazio em amarelo era para ser preenchido por Trauco, que poderia ter dado mais amplitude para o time servido como ótima opção de passe.

Dificuldades na transição? Passes verticais para quebrar linhas e buscar brechas

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Com algumas dificuldades na criação e transição para atacar o adversário, o Flamengo passou a  chegar com mais perigo através da construção de trás, arma que o time costuma utilizar pela agressividade que o zagueiro Rafael Vaz tem quando tem a bola. Com Diego buscando a entrelinha e Éverton alargando o campo, através de um passe vertical e rápido, Vaz achou Diego, tirou a bola da pressão, acelerou o jogo e criou uma oportunidade pela esquerda. Observe Trauco por dentro, quase como um segundo atacante e, do outro lado, Arão infiltrando em busca de profundidade.

2º tempo decidido na bola parada e expulsão

O Flamengo voltou para o segundo tempo mais ofensivo e efetivo. Buscando mais o gol, acelerando mais a transição. Sempre usando Guerrero para segurar com a parede ou escorar de primeira e facilitar a subida do time. Com a entrada de Berrío e Gabriel, o time ficou mais leve e se soltou ainda mais com tabelas e velocidade pelos flancos. Parecia o momento perfeito para buscar o gol e controlar de vez o jogo. Aaté que veio uma flta boba cometida por Diego.

A cobrança lateral ensaiada contou com a técnica de bloqueio, muito utilizada no basquete, para que Santiago Silva ficasse livre para cabecear e abrir o placar. Logo em seguida, Berrío foi expulso e o Fla se perdeu. Zé Ricardo até tentou ensaiar um abafa com Damião e Guerrero juntos, mas não tinha como.

10/03/2017 / Campo de 11

Abel transforma Fluminense com detalhes e confiança

O Fluminense é um time muito mais competitivo em 2017, e boa parte disso se deve ao trabalho de Abel Braga. Apesar da manutenção de boa parte do time, o treinador conseguiu dar outro espírito aos jogadores, além de, é claro, as mudanças na forma do time jogar. Organizado no 4-1-4-1 que varia para 4-3-3 conforme a posição de campo e a posse da bola, a equipe apresenta alternativas interessantes.

A começar pela transição ofensiva. A primeira fase de construção da jogada conta com a famosa “saída com três” trabalhada na verdade com 4 jogadores, utilizando a boa leitura de jogo dos volantes Orejuela e Douglas, conforme pode-se perceber na imagem abaixo.

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O time procura circular a bola com passes curtos e acelerar o jogo no momento certo, seja com projeções de Douglas ou passes verticais de Sornoza.

As diagonais longas de Sornoza

O equatoriano que joga com a camisa 20, aliás, é responsável por outra boa arma de transição rápida do time: ou lançamentos em diagonal com profundidade. Na ponta-direita, o time vem contando com a velocidade de Wellington, que costuma chegar antes da cobertura nas bolas em velocidade, seja pelo chão ou pelo alto. Na esquerda, Richarlison é pura explosão e força física com arrancadas impressionantes. Essa mistura não poderia ser mais propícia a lançamentos em velocidade vindo de trás. E eles vêm pelo alto, dos pés de Sornoza.

Movimentação e confiança de Dourado

Duramente criticado pela torcida no ano passado, Henrique Dourado é um dos destaques do time em 2017. Abel parece ter resgatado sua motivação e, acima de tudo, sua confiança. Alguns gols e boas atuações também têm papel determinante nesse processo.

 

 

 

 

vimentação e confiança de Dourado

08/03/2017 / Campo de 11

Atlético-PR mostra virtudes e trunfos, mas segue sem controlar o jogo

O excelente primeiro tempo do Atlético-PR nesta quarta-feira, diante da Universidad Católica, pela primeira rodada da fase de grupos da Libertadores, na Arena da Baixada, deixou claro os pontos fortes da equipe de Autuori. No entanto, os 45 minutos seguintes escancaram os principais defeitos do time: não saber controlar um jogo ganho e dar chance ao azar mesmo diante de seus domínios.

Mas vamos aos pontos positivos primeiro…

Lucho como ponto de equilíbrio

Partindo do 4-2-3-1, Autuori organizou um time muito técnico do meio pra frente. Na volância, dois homens com bons passes e excelente leitura de jogo para fazer a saída de bola. Na linha de três armadores, dois jogadores mais agudos e Carlos Alberto, mais cerebral, buscando passes mais verticais. Diante da Católica, o veterano sofreu com faltas e não foi bem, dificultando a verticalização do jogo. Na frente, Pablo é quase um falso-nove, um centroavante com muita mobilidade, que gosta de cair sobretudo às costas do lateral-direito rival.

No entanto é com Lucho Gonzalez que o time cresce e se equilibra. Atuando praticamente como um box to box, o argentino oferece diversas opções para a saída de bola e busca às costas do marcador, facilitando o desafogo e levando o time à frente com passes curtos. Jogando entre os meias e os volantes rivais, é o responsável por simplificar a transição rubro-negra e aproximar a defesa dos meias de ligação.

Nas imagens abaixo, Lucho se posiciona entre as linhas do sistema rival, facilitando a transição e criando novas linhas de passe vertical para simplificar a transição.

 

Laterais agudos e amplitude com a bola

Tanto Nikão como Gedoz, sobretudo no primeiro tempo, se movimentavam para da extrema ponta para o meio quando a bola saía pelo seu respectivo lado. Com isso, se aproximavam de Carlos Alberto para armar o jogo e circular a bola por dentro, além de abrir os corredores para os laterais atleticanos, notoriamente ofensivos.

Dos dois lados, o time ganhava boa amplitude de campo com Jonathan e Sidiclei espetados. Quando bem acionados, eram ótima arma para construção de jogadas rápidas pelas pontas. Uma baita inversão de jogo de Thiago Heleno achou Jonathan livre na direita e assim nasceu o primeiro gol do jogo.

Movimentação intensa do quarteto ofensivo

No penúltimo e no último terço de campo, Autuori quer ver um time intenso e móvel. Por isso, é comum ver Carlos Alberto trocando de posição com Gedoz, ultrapassando Nikão, interagindo com Pablo. O camisa 8, aliás, é pura
movimentação. Sente-se falta, inclusive, de um pouco mais de comportamento de homem de área, para segurar mais os zagueiros e auxiliar na compactação ofensiva segurando a bola no terço final.

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Na imagem, Carlos Alberto tem diversas opções de passes curtos para fazer a circulação da bola e fazer o time entrar no terço final de campo com boas alternativas.

No segundo tempo, com as entradas de Douglas Coutinho e Rossetto, o time ficou mais leve e Pablo foi para a ponta-esquerda. Ainda assim, faltou aquele passe mais vertical, que quebra linhas e acha o atacante dentro da área.

Faltou, ainda mais, assumir o favoritimo de dono da casa e controlar o jogo, trabalhando a posse, propondo o jogo sem se sentir acuado e incomodado dentro de seu estádio.

Sem a bola, afobação e problemas no jogo aéreo

Apesar de ter ido bem nos primeiros 45 minutos de jogo, a defesa atleticana deixou a desejar no segundo tempo. Ao contrário da boa organização que vinha sendo exemplo desde a partida de volta contra o Capiatá, voltou a demonstrar afobação e desorganização em situações específicas, como por exemplo o jogo aéreo defensivo, exatamente como havia sido na partida de ida da fase anterior, na mesma Arena da Baixada.

Autuori tentou reforçar o setor tirando o corinta Otávio para colocar mais um zagueiro e ganhar estatura na primeira linha. A alteração só atraiu mais o time chileno, que acabou empatando o jogo em 2 – 2 e escancarando os problemas do Furacão.